
Como reduzir a sinistralidade (e aumentar a segurança) na gestão de frotas corporativas
A falta de segurança no trânsito permanece como um dos principais desafios dos gestores de frotas brasileiros. Com mais de 31 mil ocorrências por ano, o país ocupa atualmente o quarto lugar no ranking mundial de acidentes fatais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). O excesso de velocidade, cinto de segurança e a condução sob influência de álcool [GP1] estão entre os principais agravantes desse cenário, reforçado pelo déficit educacional sobre regras de trânsito e pela falta de infraestrutura nas vias públicas.
Em resposta a esse panorama, empresas de diversos setores vêm buscando novas soluções para aumentar a segurança de condutores e reduzir a sinistralidade de suas operações — de acordo com o último levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (IPEA), os acidentes em áreas urbanas e rodovias geram custos anuais de mais de R$ 50 bilhões na economia nacional. A perda de produtividade é o principal impacto apontado pelo estudo.
Para Guilherme Pastor, gerente de operações da Ayvens, a elaboração de estratégias mais abrangentes é o primeiro passo para mitigar riscos financeiros e preservar a integridade física de colaboradores. “O cenário atual é bastante desafiador, mas existem inúmeras ferramentas para criar modelos seguros e eficientes. O primeiro passo é elaborar um conjunto de políticas e processos bem definidos, que estabeleçam regras e parâmetros de atuação claros para gestores e condutores”, afirma.
O poder da telemetria
Entre as principais soluções para otimizar a gestão de sinistralidade, Pastor chama atenção para a evolução dos sistemas de telemetria. Diferentemente das ferramentas de rastreamento básicas (que têm como objetivo apenas a recuperação de veículos roubados ou furtados), trata-se de uma tecnologia capaz de coletar dados detalhados sobre rotas, comportamentos de condutores e manutenção de ativos — e traduzir essas informações em inteligência de negócios.
Os sistemas permitem, por exemplo, acompanhar padrões de aceleração, frenagens, manobras em curvas, horários de deslocamento e tipos de vias percorridas. A partir desses indicadores, é possível estabelecer parâmetros de segurança e monitorar hábitos de condução, identificando situações de risco preventivamente. “Ao oferecer uma visão mais sistêmica sobre a operação e automatizar processos de análise de dados, a tecnologia permite que gestores de frotas antecipem problemas e mantenham o foco em decisões estratégicas”, diz Pastor.
Além de evitar ocorrências mais graves, o uso da telemetria pode ter um impacto significativo na redução de sinistros mais simples. Como exemplo, o executivo cita o caso de uma multinacional de bens de consumo que registrava altos volumes de pequenas colisões no mesmo local. “O sistema identificou que os acidentes ocorriam em uma área de manobras situada nas próprias instalações da empresa. Bastou modificar o local de estacionamento para que os níveis de sinistralidade caíssem dramaticamente”, explica.
Mitigação de riscos: 4 iniciativas para impulsionar estratégias de gestão de sinistralidade
- Fortaleça a governança:
defina regras claras sobre utilização de veículos, comportamentos de condutores, procedimentos de sinistros e consequências para infrações. A partir daí, estabeleça indicadores de desempenho mensuráveis relacionados à segurança.
- Invista em tecnologia:
sistemas de telemetria são ferramentas poderosas para reduzir acidentes, otimizar rotinas de transportes, identificar padrões e mitigar riscos de acidentes de maneira preditiva. A eficiência da tecnologia está diretamente ligada aos níveis de integração em rotinas de equipes operacionais e financeiras.
- Capacite as equipes:
promova a educação e a conscientização contínua dos condutores e das demais equipes envolvidas no processo. Reconheça os profissionais que se destacam por mudanças positivas de comportamento e históricos de segurança.
- Crie uma rotina de manutenção:
além de evitar situações de risco causadas por falhas mecânicas, manutenções preventivas evitam gastos com ações emergenciais, eliminando gargalos de eficiência operacional e despesas de oficina.
Integração e capacitação
A incorporação a estruturas operacionais e financeiras é fundamental para impulsionar o potencial de soluções de tecnologia. No caso da gestão de sinistros, esse aspecto pode ser explorado em processos de gerenciamento de risco que traduzam dados de sinistros em estratégias personalizadas de relacionamento com seguradoras. “Avaliações orientadas exclusivamente por estatísticas gerais podem ser enganosas. O compartilhamento de informações entre diversas áreas de negócio é essencial para traçar análises mais assertivas sobre o perfil de cada empresa”, afirma Pastor.
As iniciativas de educação no trânsito são outro ponto crucial para criar abordagens integradas de prevenção de acidentes e otimização de despesas com sinistros. Além da redução de acidentes, a promoção de treinamentos e programas de conscientização pode trazer resultados como diminuição do número de multas, eficiência no consumo de combustível e melhorias nos ciclos de manutenção de veículos.
Algumas empresas brasileiras já utilizam essa abordagem para desenvolver projetos de capacitação contínua para suas bases de condutores. Com base em atitudes como excesso de velocidade e frenagens bruscas, os sistemas identificam aqueles que precisam passar por algum tipo de reciclagem. Para incentivar a adesão às boas práticas, muitas dessas organizações passaram a oferecer premiações para profissionais que apresentam históricos de segurança consistentes.
Radar de tendências
No curto prazo, a evolução das tecnologias de segurança apresenta boas perspectivas para a redução de índices de sinistralidade. Entre os movimentos que estão orientando os rumos do setor, Pastor destaca a modernização das próximas gerações de veículos. A expectativa é que dispositivos como sistemas auxiliares de permanência na faixa, frenagem automática e sensores frontais se tornem itens de fábrica cada vez mais frequentes nos modelos produzidos pelas montadoras do país.
A restrição dos limites de velocidade em grandes vias urbanas é outra tendência que deve contribuir para a desaceleração dos números de acidentes em perímetros urbanos. Os resultados alcançados pela Prefeitura de São Paulo — que diminuiu 70% dos acidentes fatais em regiões de alto risco ao reduzir os limites de 70km/h para 50km/h — têm se mostrado como uma importante referência para incentivar outros municípios a adotarem iniciativas similares.
No longo prazo, as atenções estão voltadas para os próximos capítulos da indústria de veículos autônomos. Embora seja praticamente inexistente no Brasil, trata-se de um setor que vem conquistando avanços significativos no mercado americano — e que pode mudar completamente os rumos da gestão de frotas caso atinja todo o seu potencial. “Ainda existem inúmeros desafios culturais e estruturais para que os modelos se consolidem como uma solução de massa. Trata-se de um movimento que ainda deverá levar algumas décadas para comprovar a sua viabilidade”, conclui o executivo.